Acabo de saber que morreu hoje, dia 18 de junho de 2010, o escritor português José Saramago.
Saramago, Prêmio Nobel de Literatura de 1998, o único autor em língua portuguesa a receber tal honraria, além de escritor de imenso talento e de estilo peculiaríssimo, unicamente seu, era portador de um ideário humanista que influenciou milhares de pessoa mundo afora.
O pensamento de Saramago, influenciado pelas concepções comunistas, ia muito além do marxismo vulgar, das explicações economicistas e classistas ou do ateísmo. O que diferenciava Saramago, sobretudo, era o alcance de sua inteligência para abarcar a essência do humano, com suas mazelas e belezas infinitas. E, apesar dos pesares, apesar, inclusive, de o próprio escritor querer se mostrar um pessimista incorrigível, sempre havia um quê de esperança ao final de seus escritos: contos, romances, peças de teatro, poesia.
Eu, particularmente, sinto-me um pouco órfão com a morte de Saramago. Aprendi a apreciá-lo, adaptando-me a seu estilo, digamos, diferente – um fluxo narrativo veloz, em que se confundem personagens, autor, diálogos, narrações, comentários, sem travessões e quase tudo em um único parágrafo –, desde que no meu aniversário em 1997 fui presenteado por meu primo Arnaldo com o livro “Todos os Nomes”. Não consegui mais deixar de ler todos os romances publicados doravante, até o último, “Caim”. Também fui atrás de livros anteriores: “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, “Jangada de Pedra”, “Memorial do Convento” e meus preferidos: “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, “Ensaio Sobre a Cegueira” e “Levantado do Chão”.
Em 2008, quando Saramago esteve no Brasil para lançar “A Viagem do Elefante”, fiz uma verdadeira via-crúcis em sua perseguição. Assisti à cerimônia de lançamento no Sesc Pinheiros, à Sabatina da Folha de São Paulo, ao lançamento da exposição “A Consistência dos Sonhos” no Instituto Tomie Ohtake (a foto acima foi tirada lá, quando o escritor dava uma entrevista para a televisão). Confesso que fiquei frustrado por não ter conseguido uma dedicatória em meu livro. No entanto, fiquei sinceramente emocionado pelas oportunidades de estar frente a frente desse escritor que me é tão caro.
Sei que não terei mais a felicidade de ler um novo livro de Saramago. Porém, posso reler os antigos e ler os que ainda não li. A propósito, começo hoje a ler “História do Cerco de Lisboa”, que ganhei de presente de minha amiga Talita – engraçado, todos os meus amigos sabem que sou um contumaz “saramagueano”.
Não sei por que, de cara associei o Senhor José, personagem de “Todos os Nomes”, o livro que me fez descobrir Saramago, à figura do seu autor. E assim me despeço:
Senhor José, onde quer que esteja – me desculpe se não consigo compartilhar de seu ateísmo –, muito obrigado pela sabedoria, pelo prazer da leitura, especialmente, pelo prazer com a nossa língua portuguesa, que você foi capaz de levar a milhares, talvez milhões de leitores mundo afora. Eu, humildemente, coloco-me entre eles. Saiba que deixa, além do incomensurável legado da literatura e do pensamento humanista, algo que só nós, os que falamos e pensamos em língua portuguesa, podemos entender: saudade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário