Gemini, janeiro de 2010.
A poucos dias da visita de Obama ao Rio de Janeiro, em compasso de espera pelo discurso a ser feito na Cinelândia, a cidade de São Paulo vê mais um de seus cinemas de rua, o Belas Artes, enfim, fechar as portas. Se a Cinelândia carioca tem esse nome porque no passado, diferentemente de hoje, abrigava várias salas de exibição, a mesma sina parece se impor à região da Avenida Paulista.
Quando vim para Sampa, no longínquo ano de 1991, fiquei orgulhoso por saber que ao longo dos quase três quilômetros de sua principal avenida havia mais cinemas que em Porto Alegre inteira. Desde então, tornei-me habitué de alguns deles. O Belas Artes, o Gemini, o do Conjunto Nacional, que já teve vários nomes – Bombril, Livraria Cultura, não sei mais o quê –, assim como o da Gazeta, hoje Reserva Cultural. Além deles, claro, têm os dos shoppings: os do Pátio Paulista, na ponta do Paraíso, e o Bristol, no Center 3, na ponta da Consolação. Para ficar só na famosa avenida, sem falar dos cinemas da rua Augusta e outros.
Há pouco tempo fechou o Gemini – pela enésima vez – e hoje, o Belas Artes. Ocorre no “centro novo” o mesmo já observado no “centro velho” de São Paulo. Os locais onde antes eram exibidas as preciosidades da sétima arte, agora se destinam ao consumo de bugigangas e aos cultos religiosos. Não dá para negar certo desconforto nostálgico, uma sensação ruim, ao constatar que hábitos caros a muitos da minha geração não mais serão possíveis. Além da frustração por um processo econômico e social que, apesar dos protestos, não é simples de ser contido, muito menos revertido. Aliás, será que deve ser contido e revertido? Há culpados, inimigos a serem combatidos?
A lembrança foi longe e retornei à minha terra natal, Birigui, onde eu ia às matinês do Cine Pérola todos os domingos, rigorosamente. Lembrei-me das filas imensas, virando a esquina, quando passava filme do Mazzaropi. Lembrei-me até de quando assisti “Os Trapalhões no Planeta dos Macacos”, minha primeiríssima ida a uma sala de cinema, morrendo de medo por achar que gorilas sairiam de trás da tela para nos atacar. Mas, terrível mesmo foi ver o prédio que abrigava o Cine Pérola ir abaixo para dar lugar ao estacionamento de um banco. Também me lembrei da luta inglória de alguns cidadãos biriguienses para tombar o prédio que abrigou o primeiro cinema da cidade, o qual não conheci, e que hoje é uma loja de motos.
Pior do que testemunhar a extinção dos cinemas de rua é perceber que não mais haverá um espaço de cultura, entretenimento e sociabilidade criado em seu redor. Acaba-se a caminhada tranqüila pela Avenida Paulista, batendo papo com a namorada ou com amigos, com destino a um boteco próximo para comentários e críticas, ao sabor de cerveja e petisco, sobre o filme que se acabara de assistir. Assim acontece no Rio, em Sampa e até em Birigui.
Os shoppings centers, com seu universo consumista, sua seletividade em prol de “gente bonita” e seus Cinemarks da vida, serão nossa única opção.
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