* Pelos 458 anos de São Paulo
A tradicional família mineira ultrapassa os limites do tempo das verdades sacrossantas e as fronteiras de Minas. A tradicional família mineira vem à metrópole, a contragosto, plantar ideias fora do lugar. Bolsões de bolsonarinhos multiplicam-se a ensinar os valores da família. Não só os da mineira, mais de todas: por definição, de Nosso Senhor propriedade e concessão. Replicam-se em Piratininga, onde maldizem o avesso do sonho infeliz de cidade e invejam Luíza que está no Canadá. Tudo lá é progresso, tudo cá degenera; ainda que aqui ascendam classes, ainda que alhures nos olhem com inveja.
Assim reza a tal família: cada macaco no seu galho. Seu lugar é bem na copa. O de pobre é na favela, o de mulher é na cozinha, o de preto é na senzala e o de viado é no ataúde. Amiúde envelhecem, renovando preconceitos. Só faz jus à liberdade, ainda que tardia, o sujeito que é honrado – batizado e crismado –, cumpridor dos seus deveres. Sua voz é onipresente qual o Deus a quem se teme e é só amor. Visão de mundo antiquada, fixa no retrovisor.
Tradicional família mineira – que bem pode ser paulista, alienígena ou nativa –, o mundo vai além do Triângulo e adjacências. Recusamos os teus dogmas, tuas crenças. Faça-os voar como sanhaço. Pense um pouco, desaprume: onde está teu tempo-espaço? Um regalo para Sampa, ôrra meu, é o que te peço: deixe em paz outras famílias, aos teus olhos “anormais”, até mesmo as sem igreja, pão de queijo e procissão, inda sejam bem mineiras, só que não tradicionais.
Anchieta que não estais no céu, mas na alma cosmopolita desta urbe, livrai-nos dos reaças. Tirai as ameaças contras as ricas diferenças. Santificai as tuas praças, edifícios e esquinas. Sob o escuro da fumaça, ao barulho das buzinas. Onde vigem teus pendões, onde não és conduzido e sim conduz: infinitas ipirangas com são joões, em que coisas acontecem nos milhões de corações. Amem (sem acento).
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