Renato Teixeira
No final dos anos 60, começo dos 70, os festivais de música popular eram "mania nacional". Foi nesse contexto que cheguei para começar minha carreira, como muito outros jovens que, motivados pelo impacto que Chico Buarque causara no mercado passando com sua banda, sonhavam com a glória.
As novidades eram o bom e velho samba, agora abordando temas sociais, e a música nordestina capitaneada por Vandré. A música "vinha" da universidade. Era ali que se discutia e se elegia quem era quem no ranking das preferências.
Nesse instante, surge o tropicalismo, para botar mais lenha na fogueira. Você escolhia ser "Chico" ou ser "Caetano". Chico era da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), e foi inesquecível quando, no antigo prédio da rua Maranhão, Caetano, Gil, Torquato, Duprat e Décio Pignatari enfrentaram num debate sobre a estética musical os enfurecidos "Chicófilos", inconformados com as roupas de plástico dos tropicalistas.
O movimento comandado por Gil e Caetano foi fundamental para rompermos com velhos padrões e nos prepararmos para os tempos seguintes, em que aprenderíamos a lidar com tecnologias digitais.
Eu, vindo de Taubaté sem saber o que significava tudo aquilo, me deixei encantar pelo espírito transformador da minha geração.
O meu sonho era modernizar a musica caipira; tirá-la dos horários periféricos e inseri-la no dia a dia das pessoas. Elis foi fundamental quando gravou "Romaria". Essa era a minha canção-manifesto, aquela que buscava dar outra cara para a moda de viola tradicional.
De certa forma, eu continuava visando nitidamente o publico universitário, porque era essa a estratégia à qual eu estava acostumado. As gravadoras, entretanto, tinham outro alvo. A elas interessava a periferia das grandes cidades, esse povo que vinha do interior para tentar a vida na capital. O "caipira" delas virou sertanejo, uma mistura do country americano com a estética da jovem guarda. Bingo!
A moderna música caipira, que pode ser chamada de sertaneja, folk ou sei lá o que, mudou o eixo litorâneo que historicamente ditou os rumos da música no Brasil.
Agora, como um touro de rodeio, ei-la levando a cerca no peito e mudando a sonoridade de nossas vidas. Quando ouvi falar no sertanejo universitário, pensei que era comigo. Não era!
Dizem "universitário" para que não sejam confundidos com sertanejos originais. Foi assim com o forró, que também usou o sobrenome emblemático para justificar o fato de a Vila Madalena e as imediações da USP estarem caindo na dança.
Nomenclatura em música não tem importância alguma, mesmo porque Victor e Leo são excelentes, assim como Chitãozinho e Xororó.
As gerações, quando passam pelos 15 anos, costumam se apaixonar por cantores lindos e bem vestidos. Ou não... Depois entram na universidade, casam e têm filhos.
Os "ídolos galãs", se não forem bons para valer, desaparecerão para dar espaço às novidades. Sertanejo fashion? Sertanejo gay? Vale tudo para estar no topo da parada! Eu não me preocupo mais com essas coisas. Ando devagar porque já tive pressa!
--------------------------------------------------------------------------------RENATO TEIXEIRA, 65, é cantor e compositor, autor da canção "Romaria", gravada por Elis Regina, e de "Amanheceu, Peguei a Viola", parceria com Almir Sater.
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