Carlos Heitor Cony
No último domingo, morreu Waldomiro Autran Dourado, mineiro, 86 anos, nascido em Patos de Minas, autor de uma obra que vem sendo estudada, aqui e no exterior, apesar de sua discrição, que o tornou privilégio de poucos, na medida em que se dedicou quase integralmente ao ofício de escritor. Dono de um estilo inconfundível --mais uma técnica do que um estilo--, não cortejou a popularidade nem fez parte de grupos, isolando-se em seus contos e romances como o artista que foi.
Apesar de seu temperamento, avesso a qualquer tipo de palco, Autran conseguiu o reconhecimento crítico expresso num elenco de importantes prêmios internacionais. Um de seus livros, talvez o mais conhecido, "Ópera dos Mortos", foi apontado pela Unesco para integrar a coleção de obras representativas da humanidade.
Outro de seus romances, "Os Sinos da Agonia", foi escolhido para os exames de "agrégation" das universidades francesas.
"O Risco do Bordado" é uma obra-prima pelo tecido que lembra uma aranha a fiar sua teia, silenciosa, perfeita em sua estrutura muitas vezes luminosa.
Difícil catalogar Autran Dourado em qualquer escola ou geração. Como mineiro, pode lembrar Cornélio Pena ou mesmo Lúcio Cardoso. Não inventou palavras, mas soube usá-las de forma magistral, rompendo as frases de maneira tão pessoal que qualquer um de seus textos pode ser facilmente identificado. Não criou uma linguagem, como Guimarães Rosa, mas a usou de forma tão pessoal que o torna original, para não dizer único.
Secretário de imprensa durante o governo de JK, integrou a brilhante equipe liderada por Álvaro Lins e que contava com nomes de relevo no panorama cultural da época, como Augusto Frederico Schmidt e Antonio Houaiss.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 02/10/2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário